José
José, 42 anos, é casado e
tem dois filhos. Contador, ele mora em uma casa alugada, paga prestação
do carro e tem uma empregada para ajudar no trabalho doméstico
Governo
O governo, com 192 anos
de independência, arrecadou mais de R$ 1 trilhão em 2013, mas fechou o
ano com dívida de mais de R$ 2 trilhões
José recebe seu salário em dia, uma vez por mês
No caso do governo, esse salário é a sua arrecadação, que vem dos impostos e outras receitas, como privatizações
José tem despesas com o aluguel da casa, o supermercado, a empregada e a escola do filho, por exemplo
As despesas são com os funcionários públicos, educação, saúde e previdência, entre outras
Se José consegue, com o
salário que recebe todo mês, pagar suas despesas daquele período (exceto
dívidas) e ainda sobra um pouco, significa que houve superávit primário
No caso do governo, se o
resultado do que ele arrecadou com impostos, menos suas despesas
principais, com educação, por exemplo, der positivo, significa que houve
superávit primário
A consequência disso para
o José é que ele terá uma imagem de bom pagador no mercado, já que suas
contas mostram equilíbrio, e conseguirá obter empréstimos e fazer
compras a prazo, por exemplo
Para o mercado
financeiro internacional, manter as contas públicas em ordem indica que o
país tem capacidade de pagar o que deve, ou seja, tem menos risco de
crédito e, portanto, poderá ser um bom destino para capitais
internacionais. Sua dívida é confiável
Se José teve despesas extras e acabou gastando mais do que recebeu no mês, significa que houve déficit primário
No caso do governo, se gastar mais do que arrecadou, também será registrado déficit primário
José também tem um empréstimo no banco que tomou para financiar a compra de um carro
No caso do setor
público, quando precisa de dinheiro para financiar seus gastos, porque a
arrecadação não foi suficiente, ele costuma emitir títulos públicos que
são vendidos no mercado – são os empréstimos que o governo ‘pega’ no
mercado
Se no final do mês, José,
cujas contas tiveram superávit primário, pagou suas despesas fixas e,
com o dinheiro que sobrou, pagou os juros e mais uma parte do seu
empréstimo, significa que houve superávit nominal. Ou seja, o montante total do que deve para o banco diminuiu
Superávit nominal
é quando o governo faz superávit primário, paga os juros da dívida e
ainda tem um resultado positivo, uma “sobra”, que é usada para reduzir
sua dívida pública, ou como chamam os economistas, o “estoque” de sua
dívida
Se sobra dinheiro, José
consegue fazer planos para, por exemplo, investir na troca da sua
geladeira e do seu fogão no próximo mês
No caso do governo, será
possível gastar mais em áreas que precisem de investimento ou reduzir
impostos para dar mais competitividade à economia sem desequilibrar as
contas
Se José pagou suas contas
em dia, mas teve um superávit primário pequeno e, por isso, só
conseguiu pagar apenas parte dos juros do seu empréstimo com o banco,
sem chance de quitar um tanto da sua dívida, significa que: houve déficit nominal
No caso do governo brasileiro, há um déficit
histórico, porque seu superávit primário, quando comparado com o PIB
(soma das riquezas do país), é baixo e os juros, que corrigem o valor da
sua dívida, são altos. Por isso, o governo não consegue pagar todo o
juro, muito menos abater o valor de sua dívida
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SUPERÁVIT: HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA
Cumprimento de metas mostra que país é ‘bom pagador’
-
O ministro da Fazenda, Pedro Malan [à esq.], e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco durante comemoração do aniversário de 4 anos do Real, no Centro de Treinamento do Banco do Brasil.
década de 1990
No final da década de 1990, o Brasil estava muito endividado.
Em 1998, o governo fez um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e BIS (‘Banco Central dos Bancos Centrais’), por uma ajuda de perto de US$ 41 bilhões, mas teve que se comprometer com uma série de exigências, como compromissos com estabilidade econômica e reformas da Previdência e fiscal. -
Fernando Henrique Cardoso sobe a rampa do Congresso Nacional, em Brasília (DF), durante a cerimônia de posse para o seu segundo mandato como presidente da República, em 1º de janeiro de 1999.
1999
Em 1999, o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso implantou a meta de superávit primário.
Para 1999, foi estabelecida meta de superávit primário de 3,1% do PIB.
Quanto menor a dívida em relação ao PIB, mais o país mostra que é um “bom pagador” – e portanto é maior a chance de conseguir taxas de juros mais baixas quando tiver que pedir dinheiro emprestado. -
Da esquerda para a direita: o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o secretário da presidência, Aloysio Nunes, o governador do Paraná, Jaime Lerner, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, vistos durante reunião com governadores para tratar sobre a Lei da Responsabilidade Fiscal, no Palácio do Planalto em Brasília, Distrito Federal.
década de 2000
A Lei de Responsabilidade Fiscal sancionada em 2000, por FHC, também foi um mecanismo para ajudar no cumprimento das metas de superávit.
O objetivo da lei era estabelecer uma espécie de “freio” nos gastos excessivos de prefeituras, de governos estaduais e da União.
A lei determinava que o presidente, governadores e prefeitos não gastassem mais do que arrecadassem nem deixassem dívidas para o mandato seguinte.
A intenção era melhorar a administração das contas públicas. -
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, concede entrevista coletiva no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
2009
Em 2009, no mandato do então presidente Lula, foi sancionada a Lei de Transparência, que só começou a valer em 2010.
Por meio dessa lei, estados e municípios com mais de 100 mil habitantes devem disponibilizar suas informações na internet. - O prefeito de Cascavel, no oeste do Paraná, Edgar Bueno (PDT), anuncia um corte de gastos para conter um rombo nas contas da administração municipal
2013
No início de 2013, por exemplo, o prefeito de uma cidade no interior do Paraná anunciou um corte de gastos para conter um rombo nas contas da administração municipal.
As medidas adotadas incluíram a redução do seu próprio salário.
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EVOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS
Veja o resultado do superávit primário do Brasil ano a ano e sua proporção em relação ao PIB
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MANOBRAS CONTÁBEIS
Com os gastos em alta, o governo usa artifícios – todos legais – para atingir a meta de superávit
2009
R$ 8,9
bilhões
DEPÓSITOS JUDICIAIS
A União considerou na conta R$ 8,9 bilhões recebidos a mais em depósitos judiciais antigos
R$ 3,5
bilhões
BNDES
Outros R$ 3,5 bilhões vieram do BNDES, que comprou da União dividendos que ela teria direito a receber da Petrobras
2010
R$ 31,9
bilhões
PETROBRAS
Em uma operação que envolveu a
injeção de recursos na Petrobras em troca de pagamento pela cessão
onerosa de barris de petróleo a que a União teria direito, o governo
ficou com uma "sobra" de R$ 31,9 bilhões para o superávit primário
2012
R$ 12,6
bilhões
BNDES
O BNDES foi autorizado a comprar
ações da Petrobras que faziam parte das aplicações do Fundo Soberano.
Essas ações foram repassadas ao Tesouro Nacional, que se desfez deles
por R$ 8,84 bilhões – dinheiro que engordou o superávit. Junto com
outras operações parecidas, a manobra rendeu R$ 12,6 bilhões
R$ 7
bilhões
BNDES
A Caixa Econômica Federal e o
BNDES pagaram dividendos (parte do lucro que é distribuída aos
acionistas), em valor, somado, de R$ 7 bilhões. Mas o BNDES continuou
recebendo empréstimos do Tesouro Nacional
2013
R$ 22
bilhões
REFIS
Foi reaberto o prazo do Refis,
programa de parcelamento de dívidas das empresas com o governo, que
rendeu quase R$ 22 bilhões aos cofres públicos. A medida foi feita
contra a vontade da Receita Federal
R$ 22
bilhões
CONCESSÕES
O governo também contou com os
valores recebidos pelas concessões, principalmente do Campo de Libra,
que somaram pelo menos R$ 22 bilhões
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